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Saturday, February 5, 2011

Uma lição para recordar

Hoje todos os olhos vão estar postos na Quickens Loans Arena, onde os anfitriões Cavaliers recebem os Blazers e tentam evitar a maior série de derrotas consecutivas da história da NBA. Com a derrota de ontem frente aos Grizzlies, a equipa de Cleveland já reservou um lugar nos livros dos recordes ao igualar a pior marca de sempre: 23 derrotas seguidas (empatados com os Vancouver Grizzlies de 1995-96 e os Denver Nuggets de 1997-98).

Há um ano, estavam com um recorde de 41-11 e a caminho do melhor recorde da temporada regular pelo segundo ano consecutivo. Um ano depois, estão no outro extremo: 8-42 e a passos largos para o pior recorde da temporada.

Já toda a gente sabe o que mudou: Lebron saiu. E de repente, a equipa candidata ao título das épocas anteriores parecia destinada a uma grande queda na hierarquia da NBA. Ninguém esperava que continuassem uma equipa de topo, mas também ninguém esperava que a queda fosse tão grande. Podemos ver o valor de Lebron James pelo estado em que os Cavaliers ficaram sem ele. Piores. Muito piores. No entanto, a sua saída não é a única responsável por esta série de derrotas. Shaquille O'Neal seguiu o caminho de James e saiu também, assim como Ilgauskas e Delonte West. Já esta época, perderam Anderson Varejão, Mo Williams e Daniel Gibson por lesão. Do cinco inicial que começou ontem o jogo, apenas Antawn Jamison lá estava no ano passado (e entrou a meio da época).

É uma equipa completamente diferente da que liderou a liga nos anos anteriores. Não têm qualquer estrela ou All Star e restam apenas role players e jogadores repescados da D-League. E assim os Cavaliers vêem-se condenados a uma reconstrução forçada.

E é aqui que está a moral da história (para os Cavaliers e para todas as equipas): isto é o que acontece quando uma equipa fica refém dum jogador e não se prepara para a eventualidade da sua saída. A direcção da equipa tem de ser decidida por quem a dirige e nunca deixada à mercê da vontade dum indivíduo. As equipas constroem-se, mantêm-se e reconstroem-se. Mas porque esse foi o plano. Quando essa reconstrução é forçada ou, ainda pior ainda, não é acautelada ou prevista, é este o destino que as espera.

Os Cavaliers cederam sempre aos desejos de Lebron, envolviam-no e consultavam-no nas decisões mais importantes da equipa e deram-lhe um poder que poucos (ou nenhuns) jogadores têm (não sou eu que o digo, está documentado e foi afirmado em várias ocasiões). Rodearam-no com o talento que ele exigiu e quando ele decidiu seguir outro caminho, ficaram à deriva e sem saber o que fazer. Porque todas as decisões foram feitas não só tendo em vista os interesses da equipa em vista, mas também os interesses de Lebron. Os Cavaliers queriam ganhar, mas tinham também medo de perder a sua estrela. E todas as suas decisões foram feitas com essa duplicidade: ganhar e ganhar para Lebron não querer sair.

Quando este saiu (e não estou a atacar a sua decisão, foi legítima e perfeitamente legal), não tinham um plano B, não tinham uma alternativa, não tinham nada. Apenas fé de que ele quissesse ficar. E fé não chega para construir uma equipa na NBA.

Veja-se o exemplo dos Nuggets. Continuam a tentar convencer Carmelo a ficar, mas têm alternativas preparadas. Se ele ficar, o projecto continua, mas se ele quiser sair, iniciam uma reconstrução da equipa. Mas uma reconstrução planeada, estruturada e pensada.

A Decisão de Lebron ficará para sempre como a responsável pela queda dos Cavaliers. Mas a decisão de deixar o futuro da equipa dependente dum jogador foi a primeira (e verdadeira) responsável. Uma lição para todas as equipas da NBA recordarem.