Se no post anterior analisámos a forma como a equipa de Memphis deixou escapar aquele jogo 5 que tinha na mão, depois da grande vitória de ontem temos de lhes dar o crédito devido e destacar o que foi mais impressionante nas suas exibições desta série.
E se a vitória dos Grizzlies (apenas a 4ª vez que um 8º elimina o 1º) e a forma como se superiorizaram aos Spurs ao longo de toda a série foi uma grande surpresa, aquilo que mais surpreendeu foi a maturidade e a compostura que eles apresentaram. Se não olhássemos para os BI's (ou para as rugas na cara de muitos Spurs!) e tivéssemos que dizer qual era a equipa mais veterana, não teríamos uma tarefa fácil. Se olharmos apenas para a maneira como as equipas se comportaram em campo, os Grizzlies pareceram uma equipa veteraníssima e rodada nestas andanças.
Logo no primeiro jogo, aguentaram a pressão de uma partida fora e renhida até ao último segundo e conquistaram uma vitória inesperada em San Antonio. Depois duma vitória dos Spurs no segundo jogo (o único, de toda a série, em que jogaram melhor que os Grizzlies), voltaram a Memphis e, num FedEx Forum lotado, dominaram os jogos 3 e 4 e ganharam uma vantagem (3-1) que apenas 8 equipas na história da NBA conseguiram virar.
No jogo 5, mesmo com os Spurs encostados às cordas (e em San Antonio!), voltaram a ser os Grizzlies a jogar melhor e só não fecharam logo ali a série pelas razões já expostas no post anterior. E este foi o único momento de todos os 6 jogos em que os Grizzlies tremeram e revelaram a sua inexperiência. Depois do miraculoso buzzer-beater de Gary Neal e depois de já estarem a pensar que tinham a série ganha, não conseguiram recuperar da desilusão desse final de jogo, desconcentraram-se e no prolongamento foram uma presa fácil.
Este poderia ser um momento de viragem na série. Equipas veteranas aproveitam momentos como esse para se motivar e partir para cima do adversário e equipas inexperientes podem quebrar e ceder à pressão. O jogo 6 era uma prova de fogo para a jovem equipa de Lionel Hollins. E como a passaram com distinção! Estiveram à frente durante quase todo o jogo e mostraram-se calmos, focados e determinados. Equilibrados no ataque, a rodar bem a bola, a não forçar lançamentos, parecia que faziam aquilo há anos. Outra prova de fogo chegou a 4:40 do fim: os Spurs passaram para a frente pela primeira vez desde os 0-2. Era outro momento em que parecia que os rodados Spurs iam assumir o controlo do jogo. Mas os Grizzlies saíram do desconto de tempo com um parcial de 12-2 que lhes deu uma vantagem de 9, a 1:11 do fim. Estava selado o destino do jogo e da eliminatória.
E o jogador que melhor simboliza esta inesperada maturidade e compostura dos Grizzlies é Zach Randolph. Depois duma carreira de grandes números em equipas perdedoras, problemas disciplinares e críticas à sua motivação, dedicação e ética de trabalho (pronto, ele era um nut case!), Z-Bo tornou-se um jogador muito regular e fiável. Abraçou o papel de líder e se haviam dúvidas como ele produziria neste nível onde nunca tinha estado, o roliço power forward respondeu a todas elas. Dominou o garrafão, ninguém nos Spurs o conseguiu parar e assumiu a responsabilidade no final dos jogos. Foi o seu líder, o seu go-to guy, o seu clutch player e o seu MVP (21.5 pts, 9.2 res e 3.3 ast, com 50% nos 2pts e 82.1% nos LL).
A vitória dos Grizzlies já não era esperada por muitos (e fora de Memphis não devia ser esperada por ninguém!), mas a forma segura e controlada com que o fizeram? Foi, sem dúvida, a maior surpresa desta primeira ronda.