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Tuesday, April 26, 2011

Uma conclusão, uma surpresa e um dilema


Que fantásticos que estão estes playoffs de 2011! Brent Barry disse ontem na NBA TV, no final do jogo Mavs-Blazers, que estes estão a ser os melhores playoffs de que ele se lembra. E quem somos nós para dizer o contrário. Há muitos anos (se é que alguma vez!) que não havia tantas primeiras rondas tão boas. Muitas vezes, estas eram mais previsíveis e os top seeds passavam (quase) todos. Salvo uma ou outra surpresa ocasional, era apenas a partir da segunda ronda que as coisas começavam a ficar realmente interessantes. Mas este ano, bem, mais emoção e incerteza era dificil de pedir para uma primeira ronda.

A jornada de ontem foi mais uma memorável nesta memorável ronda. Num jogo intenso, os Mavs ganharam vantagem num duelo que está electrizante e em Memphis, um 8º classificado está à beira de, apenas pela quarta vez na história, eliminar um 1º. E os Denver sobreviveram mais um dia.

Para além disso, os bi-campeões não conseguem descolar dos Hornets e os Hawks, com uma estratégia que se está a revelar brilhante (lá iremos num dos próximos posts), têm os (melhores classificados) Magic encurralados. E, pronto, nas outras reinou (ou está a reinar) a normalidade. Mas quatro séries extraordinárias em oito já é uma excelente média.

E de tudo isto podemos retirar uma conclusão, uma surpresa e um dilema.

A conclusão é que não precisam reduzir o número de equipas na NBA para aumentar a competitividade. Esta questão foi levantada durante a época a propósito do acordo colectivo de trabalho (e da reunião dos Três Super-Amigos em Miami). No meio de toda a conversa em torno da negociação de um novo acordo, surgiu a ideia da contracção da liga. Originalmente uma ideia estritamente financeira (cortar equipas de mercados mais pequenos que não tivessem lucros), alastrou depois para o plano basquetebolístico e passou a ser defendida por muitos jornalistas e comentadores como uma forma de subir o nível da competição. O nível competitivo está diluído, os melhores jogadores estão espalhados por muitas equipas e há jogadores fracos que só têm lugar na NBA porque há tantas, dizem eles. Só um punhado delas é que luta pelo título e com menos equipas, haveria mais equilíbrio, acrescentam.


Com o influxo de jogadores estrangeiros dos últimos anos, a NBA é cada vez mais global e no mundo não há jogadores suficientes para 30 equipas competitivas? Pois bem, se estes playoffs nos mostram alguma coisa é que há jogadores suficientes para fazer muitas equipas fortes. E há muito equilíbrio na NBA. E não é nivelado por baixo.

Por outro lado, reduzir o número de equipas seria, para além duma cedência às equipas dos grandes mercados que querem concentrar os melhores jogadores nos seus plantéis, uma renúncia ao esforço e ao trabalho. Se há coisa em que a NBA sempre se diferenciou, é a mostrar que o trabalho compensa. Isto é um problema do desporto americano, porque nas outras ligas profissionais (futebol americano, hoquéi, basebol), é possível construir uma equipa de topo duma época para a outra. Na NBA pode demorar anos. Mas é também isso que faz a beleza desta liga.

"3-1? Para quem? Para nós?! A sério?!"

O que nos leva até à surpresa da (re)construção dos Memphis Grizzlies. O general manager Chris Wallace foi enxovalhado por todos quando trocou Pau Gasol e recomeçou do zero (estavam entre as oito melhores do Oeste, mas não davam grandes perspectivas de subir muito mais; perderam sempre na 1ª ronda e sempre por 4-0), mas está agora a colher os frutos dessa estratégia. Ter paciência, construir através do draft, adicionando e desenvolvendo jovens talentosos e contratar alguns veteranos para complementar a equipa está a revelar-se uma receita de sucesso.
O percurso até aqui não foi isento de erros e más decisões (escolher Hasheem Thabeet no nº 2 do draft vai sempre persegui-los, por exemplo), mas é um exemplo de como se pode construir uma equipa vencedora num mercado pequeno. Quando se falava de contracção, os Grizzlies eram um dos nomes que surgiam como exemplo do tipo de equipa que podia/devia abandonar a liga para esta ser melhor. Pois bem, agora quando se fala deles, fala-se de uma das séries mais inesquecíveis das últimas décadas (se os Grizzlies ganharem, entra directamente no top das 10 melhores aqui do post anterior).

Por último, temos o dilema de Portland. Como ficou mais uma vez demonstrado neste jogo 5, Andre Miller e Brandon Roy não rendem juntos. São jogadores semelhantes, que precisam de ter a bola nas mãos para produzir. Ambos baseiam o jogo em penetrações e lançamentos de meia distância. Brandon Roy usa essas armas mais para marcar, mas também atrai defesas e assiste. Andre Miller usa-as mais para assistir, mas também marca pontos. Ambos são o tipo de base que é mais eficaz a jogar ao lado de um atirador. E nenhum deles é um spot up shooter. Sim, Brandon Roy tem um lançamento de longa distância que Miller não têm, mas mesmo aí é mais eficaz quando lança após drible ou cria o seu lançamento.

"Par ou ímpar? Um, é ímpar, é a minha vez!"

Como se viu ontem, quando Miller e Roy estão juntos no backcourt não se complementam e atacam à vez. Quando Miller tem a bola nas mãos, Roy desaparece no ataque. E quando Roy tem a bola nas mãos, Miller é redundante.
E essa é também uma das razões do baixo rendimento de Brandon Roy. É claro que os joelhos tem um papel no seu apagamento, mas já antes das operações, era claro que os dois tinham dificuldades a jogar juntos. No jogo 4, em que Roy fez aquele fenomenal 4º período? Miller estava no banco.

Este é um dilema que os Blazers vão ter de resolver mais tarde (com qual ficam? Apostam em Roy, mais novo, mas com joelhos incertos? Ficam com Miller, que já tem 34 anos? Não ficam com nenhum?), mas para já Nate McMillan tem um problema mais urgente: como conseguir rendimento dos dois jogadores. Colocando-os em campo alternadamente? E qual deve jogar mais tempo? Insistindo nos dois a jogar juntos? E como pode fazê-lo? Seja qual for a resposta, McMillan tem de encontrá-la rapidamente. O futuro dos Blazers nestes playoffs depende disso.